terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A vida após 12 anos na Polícia Militar

Há exatos 12 anos no dia 06/12/2004, eu e pouco mais de 600 jovens entrávamos para as fileiras da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte.

Nesses 12 anos muita coisa marcou minha vida nessa profissão e principalmente me fez mudar como pessoa e enxergar a vida com outros olhos.
Quando paro pra pensar no que mais me marcou é inevitável não lembrar daquele adolescente de 14 anos que morreu nos meus braços após ter um ataque cardíaco enquanto cheirava um frasco de loló. Assim como marcou também ver a vida se esvaindo dos olhos daquela senhora numa manhã qualquer de serviço normal, enquanto nós a retirávamos do veículo que capotou, é muito triste ver o pulso ficando fraco e você não conseguir fazer nada. A sensação de impotência toma conta de você ao mesmo tempo que você percebe que não é nada diante da força da vida ou da morte.
Outro caso que jamais esqueço foi ver uma adolescente de 14 anos sendo atingida com um tiro na cabeça vítima de bala perdida num carnaval e sua mãe e seu pai chorando querendo ter sua filha de volta, mas já não era mais possível.
Esses momentos são terríveis, tanto treinamento, tantas horas e noites de sono dedicadas e não conseguir fazer com que as pessoas retornem em segurança para suas casas é com certeza a maior decepção na vida de qualquer policial. Só superada pela dor de perder um irmão de farda, e nesses 12 anos foram tantos que as vezes nos perguntamos: O que ainda estamos fazendo aqui? arriscando a vida por quem nos critica, elevando o nome de uma instituição que não nos valoriza como deveria?
Mas nem tudo foram fatos negativos. A memória agora me faz recordar daquela mão que eu segurei no momento em que ia desferir um golpe de faca nas costas do seu inimigo, das pessoas que voltaram pra agradecer depois que pudemos devolver para as mesmas os pertences roubados por criminosos, do homem que arriscamos a nossa vida para salvar a dele quando tentava cometer suicídio em um rio, de todas as armas e drogas que conseguimos tirar de circulação, de todas as vítimas de acidentes que conseguimos socorrer.
"Não sei o que irei encontrar pela frente. Só sei que até aqui lutei ao lado dos justos. Resisti as empáfias, preservei a fé, combati o bom combate.
Não sou capaz de dizer se os louros da vitória criados pelos homens irão ornar a minha face.
Não sei dizer se é chegado o momento de encontrar águas calmas ou um porto seguro.


Mas sei que perseverei. Sei que meu espírito sempre foi combativo. Sei que a iniquidade que por vezes teimou em bater em minha porta, não encontrou abrigo.
Não sei como me chamam. Tão pouco como deveriam me chamar.
Mas eu me chamo guerreiro. Eu sou aquele que mesmo que ninguém acredite sempre enfrenta seus desafios. Sou aquele que quando todos recuam, tenho a certeza que estou apenas começando.
Assim sempre foi a minha caminhada.
Não peço a vós, óh meu Senhor, tempos fáceis. Peço força.
Não peço reconhecimento, peço justiça.
Não é necessário que sejam erguidos estandartes em meu louvor, basta o reconhecimento que fiz por merecer chegar até aqui.
Amparei os amigos que tombaram na jornada. Refutei os atalhos que desvirtuavam meu espírito. Acatei vossa palavra quando muitos diziam que vós havíeis esquecido meu nome.
Mas eu sabia que estavas ao meu lado, meu peito gritava em teu louvor e minha alma transbordava de tuas dádivas.
Que este seja o momento da minha vitória.
Não a que serve para envaidecer o espírito, mas a que trás o repouso merecido aos justos na batalha.
Que este seja o momento em que por ter semeado o bem, com o adubo do meu suor e a perseverança do meu ser, os frutos a serem colhidos possam ser doces.

Mas se a iniquidade ainda fizer uma última trincheira de resistência, que Vós possa renovar minhas forças, alegrar meu espírito, fortalecer minha determinação, pois existe algo mais imponente que a galhardia da vitória... A certeza que sou capaz de ir e fazer tudo que vossas dádivas permitirem.
E como é um Pai amoroso, sei que me permitirás ir até o infinito se preciso for para realizar meus sonhos.
Não sei o que encontrarei pela frente, mas sei que sou grato por me permitires chegar até aqui.
Obrigado Senhor, muito obrigado."

É isso aí

Por Leandro de Souza

  

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